Pássaros
“Como o cognoscente distingue um determinado pássaro entre milhares de espécies ou uma entidade dermatológica distinta entre centenas? Através de uma observação cuidadosa e da classificação organizada.”
Bernard Ackerman, Histologic Diagnosis of Inflammatory Skin Diseases, 1997
Rev(f)erência seja feita ao Dr. Bernard Ackerman pela brilhante classificação das dermatoses inflamatórias. Ele criou algoritmos para o reconhecimento de cada entidade considerando os padrões de dermatite (superficial, profunda, nodular, vasculite, foliculite, etc.), a população de células inflamatórias e características morfológicas específicas. E, claro, sempre com a devida correlação com o quadro clínico do paciente e os aspectos macroscópicos das lesões.
Olá Dr. Paulo,
A observação cuidadosa e a classificação organizada certamente são uma maneira importantíssima para distinguir pássaros e diagnosticar lesões de pele – especialmente quando se trata de uma espécie/lesão pouco familiar ao observador, ou de um observador com relativamente pouca experiência.
Mas estudos sugerem que os verdadeiros experts acabam fazendo a maioria dos seus diagnósticos de uma maneira praticamente instantânea, acurada e sem esforço nenhum – usando o simples reconhecimento de padrões (“eu já vi esse filme antes”).
De acordo com Daniel Kahneman, profissionais experientes geralmente usam o Sistema 1 de pensamento (rápido, intuitivo, automático e inconsciente) para a maioria das decisões do dia-a-dia, e reservam o Sistema 2 (lento, analítico, deliberado e consciente) para buscar as soluções que o Sistema 1 não conseguiu encontrar. Em outras palavras, é a velha “lei do menor esforço”.
O que você acha disso?
Você pode ler mais a respeito no blog Raciocínio Clínico:
http://raciocinioclinico.com.br/blog/revisoes/teoria-do-processo-dual/
Um abraço,
Excelente comentário, Leandro. Concordo com sua opinião sobre os sistemas de pensamento.
Em patologia dizemos que um caso fácil se dá o diagnóstico só de “bater o olho” (Sistema 1).
Um dos métodos do Sistema 2 é considerar pelo menos 3 diagnósticos diferenciais antes de concluir um diagnóstico, muito bem explicado no Blog Raciocínio Clínico. Outro método são os algoritmos diagnósticos, em dermatopatologia fundados pelo Dr. Ackerman, que consistem em seguir um “passo a passo” agrupando as doenças similares a partir de características mais amplas até pontos mais específicos de cada entidade.
Além de uma ferramenta diagnósticas, os algoritmos são excelente tecnologia pedagógica, pois fornecem ao médico o “caminho das pedras” já pavimentado na cabeça dos mestres.
Nem sempre os quadros clínicos/morfológicos se apresentam como nas descrições clássicas. Em alguns casos, até para o médico mais experimentado, não é possível fazer um diagnóstico com 100% de certeza. Nesses, os algoritmos e outras técnicas do Sistema 2 são fundamentais para diminuir o leque de diagnósticos diferenciais e hierarquizá-los em nível de probabilidade.