Entrevista com o Dr. Anderson, gastroenterologista de Belo Horizonte/MG

1 – Como você escolheu a gastroenterologia como especialidade?

A gastroenterologia tem amplas possibilidades de atuação. Permite trabalho em consultório, realização de exames diagnósticos e procedimentos terapêuticos, principalmente endoscópicos. Além disso, muitas das doenças da gastroenterologia tem repercussão sistêmica e exigem avaliação clínica global dos pacientes.

2 – O que são os estádios OLGA e OLGIM? Qual é sua importância na condução dos pacientes?

Os sistemas OLGA e OLGIM são utilizados quando se avalia o risco de evolução da gastrite para adenocarcinoma gástrico tipo intestinal. O sistema OLGA considera a atrofia gástrica como fator de risco individual para desenvolvimento do câncer gástrico e propõe-se a graduar os diferentes fenótipos da atrofia gástrica de forma a predizer as chances de desenvolver a neoplasia. O sistema avalia a intensidade da atrofia (ausente, leve, moderada, grave) e a localização (antro e corpo). Resulta em uma classificação que varia de estádio “0” a estádio “IV”, sendo que os estádios III e IV tem maior chance de evolução para adenocarcinoma.

O sistema OLGIM é mais recente e considera como fator de risco para o adenocarcinoma gástrico (tipo intestinal) a presença de metaplasia intestinal. Mantém os mesmo estádios do sistema OLGA (0-IV) e resulta da análise de fragmentos de biópsia obtidos do corpo e antro.

A importância desses sistemas de classificação é auxiliar o gastroenterologista clínico na definição da vigilância endoscópica dos pacientes.

3 – Existem cepas de Helicobacter Pylori de maior virulência?

Atualmente existem mais de 40 tipos de cepas do Helicobacter Pylori. As variações genômicas das cepas podem ser responsáveis pela codificação de diferentes fatores de virulência. Os mais estudados atualmente e mais relacionados à virulência são o “vacA” e “cagA”.  Diversas proteínas, provenientes dos genes do Helicobacter pylori , determinam a resposta imune do hospedeiro bem como a virulência da bactéria.  O Helicobacter pylori possui grande variação genotípica, o que pode explicar a variabilidade das doenças gastrointestinais por ele causadas bem como as diferenças na carcinogênese relacionadas à bactéria.

Outros genes importantes na patogenicidade são: cagE, virD4, baba, iceA, dentre outros.

4 – Qual é a correlação entre o uso dos inibidores da bomba de prótons e o surgimento de pólipos gástricos?

Os pólipos gástricos podem ter origem epitelial e não-epitelial. Os de origem epitelial são hiperplásicos, adenomatosos e de glândula fúndica (glandulares). A maioria dos pólipos glandulares são esporádicos, mas alguns estão associados a síndromes genéticas. Os pólipos gástricos são benignos em quase sua totalidade. Os pólipos glandulares são associados ao uso crônico dos inibidores de bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, etc.), enquanto os demais não tem relação com o uso desses medicamentos. Em casos de múltiplos pólipos glandulares (acima de 20), ou pólipos grandes (acima de 1 cm), deve-se tentar suspender os inibidores de bomba de prótons. O potencial neoplásico desses pólipos (glandulares) é muito baixo na sua forma esporádica, embora raramente possam mostrar displasia.

5 – Quais exames devem ser solicitados em pacientes com diagnóstico de gastrite atrófica?

A gastrite atrófica mais frequentemente decorre de autoimunidade ou da infecção pelo Helicobacter pylori. Quando se suspeita de gastrite atrófica autoimune, deve-se realizar a pesquisa dos anticorpos anti-célula parietal e anti-fator intrínseco para confirmação diagnóstica. O anticorpo anti-fator intrínseco é altamente específico, mas de sensibilidade não tão alta. Já o anti-célula parietal tem menor especificidade, mas sensibilidade próxima de 80%. Quando os anticorpos são negativos ou a biopsia sugere (mas não confirma) o diagnóstico de infecção pelo Helicobacter pylori, pode-se realizar a sorologia (IgG) ou teste respiratório. A dosagem de gastrina é inespecífica e pode estar aumentada nas duas situações, usualmente não servindo para diferenciá-las, mas pode ser útil. Além disso, no acompanhamento dos pacientes, deve ser realizada dosagem de vitamina B12.

6 – Qual é a importância da biopsia nos casos de doença inflamatória intestinal?

As biopsias são importantes tanto no diagnóstico quanto no segmento de pacientes com doença inflamatória intestinal (DII). Em relação ao diagnóstico, a biopsia ajuda afastar outras doenças que tenham achados clínicos ou endoscópicos semelhantes (por exemplo, colites infecciosas). Além disso, podem auxiliar na diferenciação entre retocolite, doença de Crohn e colite linfocítica (uma forma rara de doença inflamatória intestinal). Quando se avalia a mucosa ileocolônica com suspeita de doença inflamatória intestinal, a biopsia deve ser realizada mesmo em segmentos endoscopicamente normais, haja vista que em muitos casos as alterações podem ser apenas histológicas. Em relação ao segmento dos pacientes com DII, a biopsia é importante na comprovação da remissão histológica (avaliação da resposta terapêutica), além de ser fundamental no rastreamento de neoplasia colorretal, sobretudo em pacientes com pancolite.

Sobre o Dr. Anderson:
Membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Membro do grupo de transplante do Hospital das Clínicas UFMG.
Preceptor do ambulatório de doenças intestinais do Hospital das Clínicas da UFMG.
Gastroenterologista e Hepatologista no Hospital da Polícia Militar de Belo Horizonte.